CONTRIBUTOS PARA UMA APROXIMAÇÃO HISTÓRICA AO LIVRO-ÁLBUM EM PORTUGAL
A RELAÇÃO ENTRE OS CLÁSSICOS INTERNACIONAIS E AS NOVIDADES NACIONAIS
DOI:
https://doi.org/10.5016/msc.v32i0.2395Resumen
Se hoje em dia os livros-álbum portugueses contemporâneos são internacionalmente conhecidos, devido a prémios e distinções relevantes, estando disponíveis em diversos países e línguas, é provavelmente difícil acreditar que este formato não possui uma tradição sólida em Portugal anterior ao século XXI (Ramos, 2020a). A criação de livros-álbum por um único autor, muito comum e sistemática na Europa e na América do Norte desde pelo menos os anos 60 do século passado, é escassa em Portugal até ao final dos anos 90 e está associada a apenas alguns bons exemplos relacionados com o trabalho pioneiro de Manuela Bacelar, apesar de o seu trabalho ter sido praticamente ignorado pela crítica até recentemente (Rodrigues, 2019). No que diz respeito à tradução de autores internacionais, nenhum livro-álbum de Maurice Sendak, Tomi Ungerer, Bruno Munari ou Leo Lionni havia sido traduzido e editado em Portugal antes de 2006. As exceções foram alguns livros ilustrados de Iela Mari e Enzo Mari nos anos 80, e A lagartinha muito comilona, de Eric Carle, publicado em 1990. Mas nos últimos 10 anos, as novas editoras independentes e especializadas começaram a dar especial atenção à ilustração e ao design de livros, nomeadamente no que diz respeito à publicação de livros-álbum de criadores portugueses e estrangeiros, conduzindo a um aumento exponencial da tradução, tanto de obras clássicas como de bestsellers recentes. O interesse académico pelo livro-álbum em Portugal também é novo (Gomes, 2003; Ramos, 2004, 2010; Silva, 2006, 2011), mas tendo vindo a aumentar nos últimos anos. Neste estudo pretendemos caracterizar as especificidades do panorama português no que diz respeito à edição de livro-álbum, tendo em conta que, atualmente, coexistem no mercado os clássicos e as novidades e os leitores estão agora simultaneamente em contacto com publicações com 50 anos e outras muito recentes. Quase sem tradição anterior para seguir ou dialogar, os criadores portugueses contemporâneos parecem livres para explorar, experimentar e inovar neste domínio, desafiando infinitamente as possibilidades criativas do formato do livro-álbum.