NOTAS SOBRE AS NUVENS
IMAGENS DE PENSAMENTO E DE MELANCOLIA NO LIVRO DO DESASSOSSEGO
DOI:
https://doi.org/10.5016/msc.v33i0.2586Palavras-chave:
Melancolia; Imagem dialética; Modernismo português; Fernando Pessoa; Livro do desassossegoResumo
Já em 1986, Leyla Perrone-Moisés empregava a expressão “Lisboa, meu lar!”, de Fernando Pessoa-Bernardo Soares, para designar uma seção da sua edição do Livro do desassossego, na qual agrupava os fragmentos que têm o cenário lisboeta como tema e motivo, destacando a importância da paisagem na constituição da obra. Em vários deles, as nuvens são elemento fundamental, a começar por aquele que o próprio Pessoa escolheu para compor o conjunto de cinco fragmentos publicados na revista Descobrimento, em 1931. Estas notas pretendem tecer ponderações sobre a paisagem nuviosa do Livro, considerando-a tanto a partir da ideia de estado de alma como paisagem, presente na reflexão de um dos fragmentos, como segundo a ideia de imagem dialética ou imagem de pensamento de Walter Benjamin, uma forma singular de conceber o ato de percepção do olhar como um ato de leitura de sinais que se manifestam na superfície da paisagem, de modo a encontrar o “corpo da ideia” que, no caso do Livro do desassossego, é o corpo do tempo e a escrita da melancolia configurados nas nuvens.