Memória e apagamento

ensaio sobre a desmonumentalização

Autores

Palavras-chave:

memória, disputas de memória, homenagens públicas, monumentos, estátuas

Resumo

O presente artigo tem como objetivo discutir as homenagens às personalidades históricas nos espaços públicos da cidade do Rio de Janeiro. Para tanto, utilizamos como documentos de análise as placas de rua e as estátuas observadas na paisagem carioca em nosso dia a dia e, a fim de demonstrar a atualidade do tema e sua penetração como debate na sociedade, trouxemos como fonte diversas matérias jornalísticas digitais. O aporte teórico escolhido tem como base os textos de Paulo Knauss, Valéria Salgueiro e Jacques Le Goff. A discussão aponta para o movimento contemporâneo de derrubada, alteração e ressignificação das homenagens públicas, em uma disputa permanente pela memória. Nas considerações finais, defendemos a ideia da busca pelo equilíbrio político, simbólico e histórico, justificando as ideias de ressignificação, coabitação e multiplicidade para as homenagens públicas e os espaços de memória já existentes ou ainda a serem erigidos.

Biografia do Autor

Daniel Mata Roque, Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro

Daniel Mata Roque é cineasta e historiador. Membro do Corpo Permanente da Escola Superior de Guerra (ESG) do Ministério da Defesa, onde exerce a função de Adjunto da Direção do Programa de Extensão Cultural da ESG (PECESG). Doutorando do Programa de Pós-Graduação em Enfermagem e Biociências da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (PPGENFBIO-UNIRIO - Bolsista CAPES/Brasil), é bacharel em Cinema (UNESA 2016) e mestre em História (PPGH-UNIVERSO 2021), com especialização em Ciência Política (UNYLEYA 2018) e MBA em Comunicação e Marketing em Mídias Digitais (UNESA 2018). Ex-bolsista FAPERJ e CAPES/Brasil. Pesquisa a interseção entre história militar, cinema, memória de guerra e história da enfermagem, temas sobre os quais produziu documentários, livros e artigos. Diretor da Pátria Filmes, unidade cinematográfica que fundou em 2013 tendo como missão a preservação da memória, a discussão cultural e o aprimoramento da cidadania através do cinema no Brasil. Atualmente é o segundo vice-presidente da Associação Nacional dos Veteranos da Força Expedicionária Brasileira (ANVFEB) e integra as diretorias do Instituto de Geografia e História Militar do Brasil (IGHMB), da Academia de História Militar Terrestre do Brasil - Seção Rio de Janeiro (AHIMTB-RIO) e do Instituto Cultural D. Isabel I (IDII). Integrou, no passado, as diretorias da Associação dos Amigos do Museu Casa da FEB (AMAFEB) e da Sociedade Amigos da Marinha - Seção Rio de Janeiro (SOAMAR-RIO). É o idealizador e diretor do MILITUM - Festival de Cinema de História Militar. É pesquisador do Censo Permanente da FEB e membro do Corpo de Pesquisadores Associados do Centro de Estudos e Pesquisas de História Militar do Exército (CEPHiMEx). Integra o Conselho Editorial da Revista do IGHMB. Sócio Correspondente da Academia Petropolitana de Letras, do Instituto Histórico de Petrópolis e do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão. Membro dos grupos de pesquisa (CNPq) Laboratório de História da Enfermagem, Cuidado e Imagem - Lacuiden (UNIRIO); História Militar, Política e Fronteiras (UNIVERSO); Grupo de Ensino, Pesquisa e Extensão de Saúde em Emergências e Desastres - GEPESED (UFRJ); e do grupo de trabalho (GT ANPUH) História Militar. Muito brasileiro, é descendente de portugueses, italianos, libaneses e angolanos. Nasceu no Rio de Janeiro-RJ em 16/12/1994.

Fernando Porto, Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro

Graduação em História pela Universidade Candido Mendes (2016) e Graduação em Enfermagem e Obstetrícia pela Faculdade de Enfermagem Luiza de Marillac (1992). Mestrado em Enfermagem pela Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (2001) e Doutorado em Enfermagem pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (2007). Atualmente é Professor Associado da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro. Membro Acadêmico Titular da Academia Brasileira de História da Enfermagem. Tem experiência na área de Enfermagem, com ênfase em Enfermagem Materno-Infantil, atuando principalmente nos seguintes temas: enfermagem, história da enfermagem, imprensa escrita, cuidado e história.

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Publicado

06-06-2025

Como Citar

Mata Roque, D., & Porto, F. (2025). Memória e apagamento: ensaio sobre a desmonumentalização. Patrimônio E Memória, 20(2), 298–320. Recuperado de http://pem.assis.unesp.br/index.php/pem/article/view/2917

Edição

Seção

Artigos Livres