Desde o soar dos clarins ao repercutir dos instrumentos nativos do Congo

a presença negra e mestiça na prática musical no Brasil entre os séculos XVIII e XIX

Autores/as

  • Luiz Domingos Nascimento Neto Universidade Federal de Pernambuco

Palabras clave:

negros, mestiços e músicos

Resumen

Numa sociedade marcada em seus diversos níveis de hierarquização pela presença da escravidão, africanos e sujeitos oriundos das mestiçagens biológicas ocorridas no seio da América portuguesa, demarcaram seu território de atuação não apenas no universo dos ofícios mecânicos e dos trabalhos relacionados à agricultura e extrativismo. Antes, se estabeleceram ou foram empregados como artífices da música a serviço de Irmandades católicas, Senado de câmara ou particulares. Se por um lado, a escassez de documentação até os dias de hoje tem sido o principal obstáculo para identificação da identidade da maior parte destes sujeitos; por outro, a presença absoluta de homens de cor no exercício desta arte até os dias de hoje tem despertado o interesse de musicólogos e historiadores. Tencionamos neste texto apreender aspectos da participação dos negros e de seus descendentes no exercício da arte musical entre os séculos XVIII e XIX, no intuito de descortinar especificidades desta presença nesta atividade artística tão apreciada por contemporâneos.

Citas

ALMEIDA, Suely C. Cordeiro de. Vida íntima entre senhores e escravos no Recife e na Lisboa setecentistas: três histórias, três memórias. Revista Afro-Ásia, Salvador, n. 43, p. 195-212, jan-jun. 2011.

BEZERRA, Janaína dos Santos. A fraude da tez branca: A integração de indivíduos e famílias pardas na elite colonial Pernambucana (XVIII). 2016. 323 f. Tese (Doutorado em História) - Departamento de História, Universidade Federal de Pernambuco, Recife, 2016.

BLUTEAU, Raphael. Vocabulário português e latino. v. I. Coimbra: Colégio das Artes da Companhia de Jesus, 1712-1727. Disponível em:< http://www.brasiliana.usp.br/dicionario/edicao/1>. Acessado em 25/07/2016.

BRÜGGER, Sílvia; OLIVEIRA, Anderson de. Os Benguelas de São João del Rey: tráfico atlântico, religiosidade e identidade étnica (séculos XVIII e XIX). Revista Tempo, Rio de Janeiro, n. 26, p.177-204, jan. 2009. Disponível em: <http://www.historia.uff.br/tempo/artigos_livres/v13n26a10.pdf>. Acessado em 31/08/2016.

CARDOSO, André. A música na corte de D. João VI, 1808-1821. São Paulo: Martins Fontes, 2008.

COSTA, F. A. Pereira da. Dicionário Biográfico de Pernambucanos Celebres. Recife: Fundação de Cultura da Cidade do Recife. 1982.

DAIBERT, Robert. A religião dos bantos: novas leituras sobre o calundu no Brasil colonial. Estudos Históricos, Rio de Janeiro, vol. 28, n. 55, p. 7-25, jun. 2015. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-21862015000100007&lng=pt&nrm=iso&tlng=en>. Acessado em 04/05/2016.

DEBRET, Jean Baptiste. Viagem pitoresca e histórica ao Brasil. v. II. São Paulo: Circulo do Livro, 1989.

ELIAS, Nobert. Mozart: sociologia de um gênio. Trad. Sérgio Goes de Paula. Rio de Janeiro: Zahar, 1995.

FLORENTINO, Manolo Garcia. Em costas negras: uma história do tráfico atlântico de escravos entre a África e o Rio de Janeiro, séculos XVIII e XIX. Rio de Janeiro: Arquivo Nacional, 1993.

FLORENTINO, Manolo Garcia e GÓES, José Roberto. A paz das senzalas: famílias escravas e tráfico atlântico, Rio de Janeiro, c. 1790 – c. 1850. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1997.

FREYRE, Gilberto. Sobrados e mocambos: decadência do patriarcado rural e desenvolvimento do urbano. 15a edição. São Paulo: Global, 2004.

GOMES, Gustavo Manoel da Silva. A cultura Afrobrasileira como discursividade: história e poderes de um conceito. 2013. 183f. Dissertação (Mestrado em História) – Departamento de História, Universidade Federal Rural de Pernambuco, Recife, 2013.

GUTJAHR, Simone. Atuação de músicos em associações religiosas nos períodos colonial e imperial. Florianópolis: UDESC, 2010.

LARA, Silvia Hunold. Fragmentos Setecentistas: escravidão, cultura e poder na América portuguesa. São Paulo: Companhia das Letras, 2007.

LEONI, Aldo Luiz. Os que vivem da arte da música: Vila Rica, século XVIII. 2007.

f. Dissertação (Mestrado em História) - Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, Universidade Estadual de Campinas, Campinas-São Paulo, 2007.

LIMA, Priscila de; SOUZA, Fernando Prestes de. Músicos negros no Brasil colonial: trajetórias individuais e ascensão social (segunda metade do século XVIII e início do XIX). Revista Vernáculo, Curitiba, n. 19 e 20, 2007. Disponível em: http://revistas.ufpr.br/vernaculo/article/viewFile/20544/13729. Acessado em 28/03/2016.

MAC CORD, Marcelo. O Rosário de D. Antônio: irmandades negras, alianças e conflitos na história social do Recife (1848-1872). Recife: Ed. Universitária da UFPE, 2005.

MACHADO DE OLIVEIRA, Anderson José. Trajetórias de clérigos de cor na América Portuguesa: catolicismo, hierarquias e mobilidade social. Andes, Salta, vol. 25, n. 1, p.1-28. jun. 2014. Disponível em: <http://www.scielo.org.ar/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1668-80902014000100002&lng=es&nrm=iso>. Acessado em 21/06/2016.

MARTIN, Dennis-Constant. A herança musical da escravidão. Revista Tempo, Rio de Janeiro, n. 29, p.15-41. jul. 2010. Disponível em: <http://www.historia.uff.br/tempo/site/wpcontent/uploads/2010/12/v15n29a02.pdf>. Acessado em 08/09/2016.

MATTOS, Cleofe Person de. Catálogo Temático de obras do Padre José Mauricio Nunes Garcia. Rio de Janeiro: Conselho Federal de Cultura/MEC, 1970.

MONTEIRO, Maurício. A Construção do Gosto: música e Sociedade na Corte do Rio de Janeiro (1808-1821). São Paulo: Ateliê Editorial, 2008.

NASCIMENTO NETO, Luiz Domingos do. Cor, suor e som: Inserção social e prática musical no Recife (c.1789- c.1822). 2014. Dissertação (Mestrado em História) – Departamento de História, Universidade Federal de Pernambuco, 2014.

OLIVAL, Fernanda. FIGUEIRÔA-REGO, João de. Cor da pele, distinções e cargos: Portugal e espaços atlânticos portugueses (séculos XVI a XVIII). Revista Tempo, Rio de Janeiro, n. 30, jul. 2011. Disponível em: < http://www.historia.uff.br/tempo/site/?page_id=11>. Acessado em 17/11/2016.

PAIVA, Eduardo França. Dar nome ao novo: uma história lexical da Ibero-América entre os século XVI e XVIII (as dinâmicas de mestiçagem e o mundo do trabalho). Belo Horizonte: Editora Autêntica, 2015.

PEREIRA, Mayra. Aerofones no rio de janeiro nos séculos XVIII e XIX: uma abordagem a partir de documentos alfandegários. In: I SIMPÓSIO BRASILEIRO DE PÓS-GRADUANDOS EM MÚSICA XV & COLÓQUIO DO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM MÚSICA DA UNIRIO. Rio de Janeiro: Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro, Departamento de Música, 2010. Disponível em: <http://www4.unirio.br/simpom/textos/SIMPOM-Anais-2010-MayraPereira.pdf>. Acessado em 30/12/2016.

POHL, Johann Emanuel. Viagem ao interior do Brasil. Belo Horizonte. São Paulo: Itatiaia; EDUSP, 1976.

RODRIGUES, Jaime. De costa a costa: escravos, marinheiros e intermediários do tráfico negreiro de Angola ao Rio de Janeiro (1780-1860). São Paulo: Companhia das Letras, 2005.

RUSSEL-WOOD, Anthony John R. Escravos e libertos no Brasil colonial. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2005.

SANSONE, Lívio. Negritude sem etnicidade: o local e o global nas relações raciais e na produção cultural negra do Brasil. tradução de Vera Ribeiro, Salvador/Rio de Janeiro, Edufba/Pallas, 2004.

SANTOS, Jocélio Teles dos. De pardos disfarçados a brancos pouco claros: classificaçõesraciais no Brasil dos séculos XVIII e XIX, Afro-Ásia, Salvador, n. 32, p. 115-137, 2005. Disponível em: <http://www.afroasia.ufba.br/pdf/afroasia32_pp115_137_Jocelio.pdf>. Acessado em: 31/04/2016.

SCHAWRCZ, Stuart Moritz. O sol do Brasil: Nicolas-Antoine Taunay e as desventuras dos artistas franceses na corte de D. João. 2a reimpressão. São Paulo: Companhia das Letras, 2008.

SILVA, Vanda Sá. Circuitos de Produção e Circulação da Música Instrumental em Portugal entre 1750-1820. 2008. 388f. Tese (Doutorado em Musicologia) – Departamento de Música, Universidade de Évora, Évora, 2008.

SILVEIRA, Renato da. Nação africana no Brasil escravista: problemas teóricos e metodológicos. Afro-Ásia, Salvador, n. 38, p. 245-301, jul-dez. 2008. Disponível em: <http://www.afroasia.ufba.br/edicao.php?codEd=92>. Acessado em 25/10/2016.

SOARES, Carlos Eugenio Libaneo. Instruídos na fé, batizados em pé: batismos de africanos na Sé da Bahia na 1a metade do século XVIII 1734-1742. Afro-Ásia, Salvador, n. 39, p. 79-113, 2009. Disponível em: <http://www.afroasia.ufba.br/pdf/AA_39_CELSoares.pdf>. Acessado em 30/09/2016.

SOUZA, Laura de Mello e Souza. Opulência e Miséria das Minas Gerais. São Paulo: Brasiliense, 1997.

SOUZA, Marina de Mello e. Reis negros no Brasil escravista: história da festa de coroação de Rei Congo. Belo Horizonte: Editora da UFMG, 2002.

TINHORÃO, José Ramos. Festa de negro em devoção de branco: do carnaval na procissão ao teatro no círio. São Paulo: Editora da Unesp, 2012.

TINHORÃO, José Ramos. Os negros em Portugal: uma presença silenciosa. Lisboa: Editorial Caminho, 1988.

TINHORÃO, José Ramos. Os sons dos negros no Brasil – canto, danças, folguedos: origens. São Paulo: Art Editora, 1988.

VASCONCELOS, Ary. Raízes da música popular brasileira: 1500-1889. São Paulo: Martins; Brasília: INL, 1977.

VERGER, Pierre. Fluxo e refluxo do tráfico de escravos entre o Golfo do Benin e a Bahia de Todos os Santos do século XVII a XIX. São Paulo: Corrupio, 1987.

VIANNA, Hermano. O mistério do samba. Rio de Janeiro: Zahar. Editora UFRJ, 1995.

VILHENA, Luís dos Santos. A Bahia no século XVIII. Notas e comentários de Braz do Amaral. Salvador: Editora Itapuã, 1969.

Publicado

2018-01-03

Cómo citar

NASCIMENTO NETO, Luiz Domingos. Desde o soar dos clarins ao repercutir dos instrumentos nativos do Congo: a presença negra e mestiça na prática musical no Brasil entre os séculos XVIII e XIX. Faces da História, [S. l.], v. 4, n. 2, p. 165–180, 2018. Disponível em: https://pem.assis.unesp.br/index.php/facesdahistoria/article/view/220. Acesso em: 24 nov. 2024.