Escrita de si com e sem reservas: memoriais acadêmicos femininos de titularidade (USP – UNICAMP, 2000-2015)

Wilton Carlos Lima da Silva

Resumo


O memorial acadêmico é um relato autobiográfico que se estrutura na confluência da exigência burocrática e da narrativa de si, se apresentando como uma manifestação privilegiada da memória de indivíduos que se destacam em suas carreiras profissionais, atingindo níveis superiores da carreira acadêmica. Neste artigo buscamos, a partir de treze memoriais acadêmicos de professoras aprovadas em concursos de titularidade nos Departamentos de História e Antropologia na USP e na UNICAMP entre 2000 e 2015, discutir algumas questões referentes à condição feminina, em particular, sobre as dimensões de classe, raça e gênero. O escopo documental também oferece elementos para a problematização dos processos de construção da escrita de si, tendo como referenciais a ego-história e a auto-etnografia, a partir de marcadores sobre origens familiares; herança, obra e legado, atividades profissionais; gênero e corporalidade.

Palavras-chave


Memorial Acadêmico; Memória; Ego-História; Auto-Etnografia.

Texto completo:

PDF

Referências


ALMEIDA, Jane Soares de. Mulheres e Educação: a paixão pelo possível. São Paulo: Editora Unesp, 1998.

AMELANG, James A. De la autobiografía a los ego-documentos: un forum abierto. Cultura, Escrita y Sociedad. Madri: Universidad de Alcala, no. 1, 2005.

ANHEZINI, Karina. Arautos da História da historiografia: as disputas por um conceito de historiografia nas cartas de Amaral Lapa enviadas a Nilo Odália. Revista Patrimônio e Memória. São Paulo: UNESP, vol. 11, no. 1, p. 4-21, jan-jun, 2015.

ARISTIZABAL, Catherine. Autodocumentos hispanoamericanos del siglo XIX: fuentes personales y análisis histórico. Berlim: LIT Verlag / Hamburger Lateinamerikastudien, 2012.

AURELL, Jaume. “Autobiography as Unconventional History: Constructing the Author”, In: Rethinking History: Journal of Theory and Practice. London: Routledge, vol. 10, p. 433-449, 2006.

_____________. Theoretical Perspectives on Historians’ Autobiographies: from documentation to intervention. New York and London: Routledge, 2015.

¬¬____________. Del logocentrismo a la textualidad: la autobiografía académica como intervención historiográfica, In: Edad Media: Revista de Historia. Espanha: Universidad de Valladolid, no. 9, p. 193-222, 2008.

_____________. Textos autobiográficos como fontes historiográficas: relendo Fernand Braudel e Anne Kriegel. História. Trad. Wilton C. L. Silva. São Paulo: Editora da Unesp, vol. 33, no. 1, p. 340-364, 2014.

BARROS, Mariana Luz Pessoa de. O discurso da memória: entre o sensível e o inteligível. 2011. 307 f. Tese (Doutorado) – Departamento de Linguística, Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo. São Paulo, 2011.

BELL, Susan Groag; MARILYN, Yalom. Introduction. In: BELL, Susan Groag; MARILYN, Yalom. Revealing Lives: autobiography, biography, and gender. Albany: State University Of New York Press, p. 1-13, 1990.

BRANDÃO, Carlos Rodrigues. Diário de campo: a antropologia como alegoria. São Paulo: Editora Brasiliense, 1982.

BRUNER, Edward M. Ethnography as Narrative, In: TURNER, Victor Witter; BRUNER, Edward M. The Anthropology of Experience. Illinois: Urbana and Chicago, University of Illinois, p. 139-155, 1986.

CÂMARA, Sandra Cristinne Xavier da; PASSEGGI, Maria da Conceição. O gênero memorial acadêmico no Brasil: concepções e mudanças de uma autobiografia intelectual. In: XXIV Jornada Nacional do Grupo de Estudos Linguísticos do Nordeste. Natal: UFRN, 4 a 7 de set. Anais, 2012. Disponível em: http://www.gelne.org.br/Site/arquivostrab/1517-ARTIGO-GELNE-2012-SandraCXCamara-Passeggi.pdf Acesso em: 27 abr/2014.

_____________. Memorial acadêmico: investigando sua gênese. In: PASSEGGI, Maria da Conceição; BARBOSA, Tatyana Mabel Nobre (orgs.). Memórias, memoriais: pesquisa e formação docente. São Paulo: Editora Paulus, 2008.

CAMPOS, José Francisco Guelfi. Preservando a memória da ciência brasileira: os arquivos pessoais de professores e pesquisadores da Universidade de São Paulo. 2014. 250 f Dissertação (Mestrado) – Departamento de História, Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo. São Paulo, 2014.

CARVALHO, Raphael Guilherme de. Tentativas de Mitologia (1979), escrita de si e memória de Sérgio Buarque de Holanda. Revista Estudos Históricos. Rio de Janeiro: FGV, vol. 30, no 62, p. 701-720, set-dez, 2017.

DELGADO-GARCIA, Manuel. La metodología biográfica narrativa y posibilidades en el ámbito del docente universitário. Revista Latinoamericana de Metodologia de las Ciencias Sociales. Argentina: Universidad Nacional de La Plata, vol. 8, no. 2, p. 1-15, 2018.

DINTENFASS, M. “Crafting Historians’ Lives: Autobiographical Constructions and Disciplinary Discourses after the Linguistic Turn”, In: The Journal of Modern History, vol. 71, p. 150-165, 1999.

ELLIS, Carolyn. The Ethnographic I: A Methodological Novel about Autoethnography. Walnut Creek. California: Alta Mira Press, 2004.

EVANGELISTA, Marcela Boni; RIBEIRO, Suzana Lopes Salgado. Da terra ao corpo: lutas e conquistas de gênero. METAXY: Revista Brasileira de Cultura e Políticas em Direitos Humanos. Rio de Janeiro: UFRJ, vol. 1, no. 2, mar. 2018.

GOSSAMAN, Lionel. History as (Auto)Biografy: A Revolution in Historiography, In: DONALDSON-EVANS, Mary; FRAPPIER-MAZUR, Lucienne; PRINCE, Gerald. Autobiography, History, Rhetoric. Amsterdam: Rodopi, p. 103-129, 1994.

JONES, Stacy Holman. et al. Handbook of Autoethnography. New York: Left Coast Press, 2013.

LEJEUNE, Phillipe. O Pacto Autobiográfico: de Rousseau à Internet. Belo Horizonte: UFMG, 2008.

LIMA, Roberto Kant de. A antropologia na academia: quando os índios somos nós. Niterói: EDUFF, 1997.

MUNIZ JÚNIOR, João; SILVA, Wilton C. L. Virtudes epistêmicas e performance na escrita de si de Nelson Werneck Sodré. Revista Outros Tempos. São Luis (MA): UEMA, vol. 16, no. 28, p. 26-47, 2019. Disponível em: https:// www.outrostempos.uema.br/OJS/index.php/ outros_ tempos_uema/article/view/690. Visitado em 20/06/2020.

NASCIMENTO, Juliana Luporini do; NUNES, Everardo Duarte. Quase uma auto/biografia: um estudo sobre os cientistas sociais na saúde a partir do Currículo Lattes. Ciência & Saúde Coletiva. Rio de Janeiro, p. 1077-1084, 2014.

NASCIMENTO, Juliana Luporini. Uma (con)figuração social: cientistas sociais, antropólogos, sociólogos e cientistas políticos em saúde no Brasil. 2011. 285 f. Tese (Doutorado) - Departamento de Medicina Preventiva e Social da Faculdade de Ciências Médicas, Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2011.

NORA, Pierre. Ensaios de Ego-história. Lisboa: Edições 70, 1989.

OKELY, Judith; CALLAWAY, Helen. Anthropology and Autobiography. New York: Routledge, 1992.

PASSEGGI, Maria da Conceição; SOUZA, Eliseu Clementino de; VICENTINI, Paulo Perin. Entre a vida e a formação: pesquisa (auto)biográfica, docência e profissionalização. Educação em Revista. Belo Horizonte: UFMG, vol. 27, no. 1, p. 369-386, 2011.

PASSEGGI, Maria da Conceição; SOUZA, Elizeu Clementino (Org.). (Auto)Biografia: formação, territórios e saberes. São Paulo: Paulus; Natal: EDUFRN, 2008.

PASSEGI, Maria da Conceição; SILVA, Vivian Batista da. Narrar é humano! Autobiografar é um processo civilizatório. In: PASSEGI, Maria da Conceição; SILVA, Vivian Batista da. (Org.). Invenções de vida, compreensão de itinerários e alternativas de formação. São Paulo: Editora Cultura Acadêmica, p. 103-128, 2010.

PAUL, Herman. Self-images of the historical profession: Idealized practices and myths of origin. Storia della Storiografia. Países Baixos: University of Leiden, vol. 59-60, p. 157-170, 2011.

_____________. What is a scholarly persona? Ten theses on virtues, skills, and desires. History and Theory, Connecticut: Wesleyan University, vol. 53, p. 348-371, 2014.

PIÑA, Carlos. La construccion del “si mismo” en el relato autobiográfico. Chile: FLACSO, no. 383, 1988.

_____________. Sobre la naturaleza del discurso autobiográfico. Anuário Antropológico/88. Brasília: Editora UNB, 1991.

POPKIN, J. D. “Historians on the Autobiographical Frontier”. The American Historical Review. Oxônia: Oxford University Press, vol. 104, p. 725-748, 1999.

_____________. History, Historians & Autobiography. Chicago: The University of Chicago Press, 2005.

_____________. Ego-histoire and Beyond: Contemporary French Historian-Autobiographers. French Historical Studies. Carolina do Norte: Duke University Press, vol. 4, no. 19, p. 1139-1167, 1996.

RAAB, Diana. Transpersonal approaches to autoethnographic research and writing. The Qualitative Repor, vol. 18, no. 21, p. 1-18, 2013. Disponível em: https://nsuworks.nova. edu/cgi/viewcontent.cgi?article=1516&context=tqr. Visitado em 16/03/2018.

REED-DANAHAY, Deborah. Auto/Ethnography: rewriting the self and the social. Oxford/New York: Berg, 1997.

REGO, Teresa Cristina. Trajetória intelectual de pesquisadores da educação: a fecundidade do estudo dos memoriais acadêmicos. Rev. Bras. Educ. Rio de Janeiro, vol. 19, no. 58, p. 779-800, setembro, 2014.

SAFATLE, Vladimir. Dos problemas de gênero a uma teoria da despossessão necessária: ética, política e reconhecimento em Judith Butler. In: Relatar a si mesmo: crítica da violência ética. São Paulo: Autêntica, p. 102-120, 2015.

SARLO, Beatriz. Paisagens imaginárias: intelectuais, arte e meios de comunicação. São Paulo: Edusp, 2005.

SILVA, Wilton C. L.; MONTEAGUDO, José Gonzales. Cartesianos o Hermeneúticos: El memorial académico como forma de autobiografía docente en Brasil. Cuestiones Pedagógicas. Sevilla: Facultad de Ciencias de la Educación, vol. 25, p. 133-144, 2017.

SILVA, Wilton C. L. Quando a experiência acadêmica se transforma em experiência de escrita: memoriais acadêmicos como autobiografias. Cadernos de História. Mariana: UFOP, vol. 9, p. 86-106, 2014.

_____________. A vida, a obra, o que falta, o que sobra: memorial acadêmico, direitos e obrigações da escrita. Revista Tempo e Argumento. Florianópolis: PPGH/UDESC, vol. 7, no. 15, p. 103-136, out. 2015.

_____________. Para além da ego-história: memoriais acadêmicos como fontes de pesquisa autobiográfica. Patrimônio e Memória. Assis: UNESP, vol. 11, p. 71-95, jan-jun. 2015.

_____________. Saber se inventar: o memorial acadêmico na encruzilhada da autobiografia e do egodocumento. Métis: História & Cultura. Caxias do Sul: Universidade de Caxias do Sul, vol. 15, p. 44-67, jul-dez. 2016.

_____________. Brilho etéreo de arquivos e lembranças: algumas questões sobre arquivos pessoais e biografias. Diálogos. Maringá: UEM, vol. 21, p. 32-43, set. 2017.

_____________. Jogo de Titular: questões de gênero em memoriais acadêmicos de titularidade de antropólogas (USP/UNICAMP, 2000-2015). Comunicação oral. Anais da 31ª. Reunião Brasileira de Antropologia. Brasília: UNB, 2018. Disponível em: http://www.evento.

abant.org.br/rba/31RBA/files/1539477260_ARQUIVO_COMUNICACAOORALRBA2018_JogodeTitular.pdf. Visitado em 02/07/2019.

SILVA, Wilton C. L.; VIEIRA, Rafaela Duarte. De lá para cá: classe, raça e gênero em narrativas autobiográficas de antropólogas em memoriais acadêmicos (USP/UNICAMP, 2004-2014). Amazônica: Revista de Antropologia. Belém: UFP, vol. 11, no. 1, p. 59-81, 2019. Disponível em: https://periodicos.ufpa.br/index.php/amazonica/article/view/6695. Visitado em 15/06/2020.

TOMASSINI, Cecilia. Ciencia académica de varone y mujeres em dos disciplinas del conocimiento dentro de la Universidad de la Republica. Montevideo: Universidad de la Republica, 2013.

VELHO, Léa; LÉON, Elena. A construção social da produção científica por mulheres. Cadernos Pagu. Campinas: Universidade Estadual de Campinas, vol. 10, 309-344, 1998.

VERSIANI, Daniela Beccaccia. Autoetnografias: conceitos alternativos em construção. Rio de Janeiro: 7 Letras, 2005.

WAIZBORT, Leopoldo. Para uma sociologia do memorial acadêmico - um fragmento. Literatura e Sociedade, São Paulo: Universidade de São Paulo, no. 3, p 77-82, 1998.


Apontamentos

  • Não há apontamentos.


Universidade Estadual Paulista (UNESP) – câmpus de Assis
Faculdade de Ciências e Letras

Centro de Documentação e Apoio à Pesquisa (Cedap)
Av. Dom Antônio, 2100 - Parque Universitário
CEP: 19.806-900 - Assis - SP - Brasil
Telefone: (18) 3302-5835
Website: https://www.assis.unesp.br/#!/pesquisa/cedap
e-mail: patrimonioememoria@gmail.com

 

 

Indexadores


Portal RedibLatindexDiadorimHarvard Library

Periodicos Capes

SHERPA/RoMEOEBSCOPKP logo
SEERDialNetOAJIEZB
erihplus