Malandros imaturos: os jovens protagonistas de João Antônio

Resumo

O livro de contos Malagueta, Perus e Bacanaço ficou conhecido pelo conto que lhe dá título, mas os textos iniciais, agrupados sob a rubrica “Contos Gerais”, são igualmente centrais para a compreensão da obra e definem um tipo de personagem recorrente em João Antônio: o jovem rapaz de periferia que hesita entre, de um lado, o mundo da ordem, do trabalho e da razão e, de outro, a vida mais livre e afetuosa, ligada à boêmia, à amizade e aos comportamentos desviantes. Os jovens protagonistas definem um padrão para o comportamento malandro: já são malandros a seu modo, entre a ordem e a desordem, mas são malandros imaturos, pois a forma do conto breve, com final aberto e nítidas correspondências com a biografia do autor, definem características como antonímia, laconismo e melancolia que os tornam personagens difíceis de definir, ao contrário dos malandros bem delineados, como Bacanaço e Paulinho Perna Torta. Nessa articulação imatura, que poderia ser entendida como defeito ou mesmo imaturidade literária, reside uma força que anima a obra de estreia e confere atualidade e vigor a uma escrita que continua a repor questões incontornáveis sobre a realidade e a literatura do autor.