Revistas de intelectuais exilados como objeto de pesquisa: o caso de Araucaria de Chile e Encuentro de la Cultura Cubana
FACES DA HISTÓRIA, Assis-SP, v.1, nº1, p. 124-146, jan.-jun., 2014.
Fabiana de Souza Fredrigo (1998) e Pablo Policzer (1998) também indicam o
gradativo aumento do controle estatal sobre a população chilena por meio, inicialmente, do
fechamento do Congresso Nacional, de decretos-leis que aumentaram o poder político do
executivo, proibindo todas as atividades políticas e sancionando a ilegalidade dos partidos, e
da criação da Dirección de Inteligencia Nacional (DINA) que, em nome da segurança
nacional, concentrou as medidas repressivas contra os opositores do governo. Os militares
buscavam definir a situação do Chile como uma guerra aos inimigos internos - os marxistas
e os adeptos da política de Salvador Allende – prolongando, por tempo indefinido, esse
suposto “estado de emergência e crise”, convertendo um governo militar em um regime
ditatorial (GARRETÓN apud REBOLLEDO GONZÁLEZ, 2003, p. 92). À medida que a
repressão avançava, crescia, vertiginosamente, o número de mortos, desaparecidos,
torturados e exilados.
Segundo Loretto Rebolledo González (2012, p. 178), “[...] jamais na história do Chile
havia se registrado uma saída forçada de chilenos tão massiva em tão curto prazo, para
lugares distintos, a partir de 1973 [...]”. O exílio chileno foi marcado por uma grande
quantidade de intelectuais, artistas, profissionais e estudantes universitários (REBOLLEDO
GONZÁLEZ, 2012, p. 181). Ao produzirem, nessas circunstâncias, os intelectuais chilenos
exilados evidenciaram, de diversas formas, sua conduta de oposição e resistência política à
ditadura pinochetista. A criação de Araucaria de Chile, em Roma, quatro anos após o golpe
militar no Chile, pertenceu a esse contexto amplo de militância política.
Criada em 1977 e lançada oficialmente em Paris, sua sede inicial, em 1978,
Araucaria de Chile foi uma revista cultural e política fundada e dirigida por intelectuais
chilenos ligados ao Partido Comunista de Chile (PCCh) no exílio
. Impressa em Madrid, a
revista, de circulação trimestral, teve como diretor, ao longo de seus doze anos de
publicação, o escritor e importante dirigente comunista Volodia Teitelboim. Carlos Orellana,
integrante do comitê de cultura do PCCh, foi o secretário de redação da revista.
Com 48 números publicados, sem interrupção a cada três meses, de 1978 até o
primeiro trimestre de 1990, quando, com o fim do regime militar pinochetista, a revista
encerrou suas publicações, Araucaria de Chile veiculou e difundiu, em seus textos, visões
Na reunião em que se decidiu pela fundação de Araucaria de Chile, estiveram presentes os comunistas Volodia
Teitelboim, que viria a ser o diretor da revista, Carlos Orellana e o professor e poeta chileno Sergio Muñoz
Riveros, além do poeta Omar Lara e do escritor Hector Pinochet, também chilenos. A reunião se deu em Roma
por parecer, no primeiro momento, o melhor local, em termos de distância e deslocamento, para intelectuais
exilados em distintos países europeus. Todavia, Araucaria estabeleceu-se em Paris por três razões: a
possibilidade de se instalar em uma seção cedida pelo jornal L´Humanité, porta-voz do Partido Comunista da
França; por viver exilado na capital francesa o escritor, redator e membro do Partido Comunista Chileno (PCCh),
Carlos Orellana, nomeado secretário de redação da revista; e, por fim, por funcionar na cidade o comitê de
cultura do PCCh, que poderia acompanhar a produção da revista e dar o apoio material necessário (SILVA, 2009,
p. 18). Posteriormente, Araucaria de Chile estabeleceu-se em Madrid por uma questão pragmática de execução
e distribuição da revista, já que ela havia sido impressa na capital da Espanha desde seus primeiros dias, pela
editora Ediciones Michay. Mais informações, ver Carlos Orellana (1994) e Êça Pereira da Silva (2009).