nas letras do regimento. Nesse sentido, os chamados mesteirais ou artesãos dos mais
diversos ofícios se situavam em um estatuto de subordinação perante as camadas
oligárquicas da cidade juntamente com os oficiais do concelho e do rei, um senhorio
coletivo. Aqueles se encontravam sob uma jurisdição disciplinante de controle dos
pesos, medidas, tabelamento dos preços das manufaturas, nos juramentos de bom
cumprimento feitos por parte dos mesteirais, bem como punições pecuniárias e por
cadeia a aqueles que não acatassem tais normas urbanas.
O fenômeno das cidades na Idade Média Ocidental
Partindo de uma ótica geral, a presente abordagem busca entender a dinâmica
das cidades a partir de suas diversas coletividades. Para fazê-lo, primeiro é
necessário caracterizar os motivos que favoreceram a intensificação dos quadros
urbanos durante a Baixa Idade Média. Tendo em vista a influência desgastante em
relação ao desenvolvimento do comércio e do dinheiro sobre as estruturas feudais,
a pressão da exploração senhorial sobre os camponeses junto ao declínio da
agricultura feudal na crise do século XIV, fez com que massas de campesinos
migrassem estritamente para as cidades (DOBB, 1971, p. 91). Com isso, entende-se
que ser um recém-morador de uma
urbs
medieval, envolvia estar imerso em novo
sistema de relações, sendo necessário que um membro ou família vindos do campo,
desestabilizados e não mais vinculados à sua terra de origem, ingressasse ou fosse
recrutado em alguma coletividade relacionada aos “mundos do trabalho”. Sendo
assim, iria para a artesania urbana, numa oficina regida por um mestre artesão, numa
corporação ou em um comércio de envergadura mais modesta fincado no mercado
ou nas feiras. (BERNARDO, 1997, p. 421).
No caso português em questão, mais precisamente pelo que se verifica nas
Posturas Antigas de Évora
, compreende-se que os artesãos de oficio ou os
denominados mesteirais, estavam diretamente atrelados a uma autoridade do
concelho, nisso, tais mesteres possuíam pouca ou quase nenhuma autonomia de
produção, sendo muitas vezes assalariados que estavam sob o pendor de fiscalização
dos organismos administrativos (MELO, 2009, p. 166). Esses tinham suas atividades
arregimentadas pelo controle local, havendo um tabelamento de preços, tarefas e
jornas a serem realizadas por cada oficial (MELO, 2009, p. 287). Como podemos
observar no caso dos
Titulos
existentes nas Posturas, “
Titulo dos Olleiro, dos
alfayates de pano de cor, dos teçellãaes e tecedeiras, dos alfagemes”
dentre muitos
outros (BARROS
et al
, 2012, pp. 46-58). Encontram-se aí exemplos das mais diversas
leis que exigiam um juramento desses mesteirais junto aos Evangelhos para se agir