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FACES DA HISTÓRIA, Assis-SP, v.1, nº2, p. 186-205, jul.-dez., 2014.
Super-heróis da década de 1960: Guerra Fria e mudanças sociais nos comics norte-
americanos
comumente chamada) em 1958, com a “reinvenção” do herói Flash, essa era
trouxe muitos novos heróis, bem como “ressuscitou” diversos outros com uma
roupagem nova, adequada ao novo contexto e público, o que a fez ganhar
muito espaço no mercado de comics.
Em contrapartida, a rival Atlas Comics (antiga Timely Comics)
resolveu aproveitar o novo fôlego que os quadrinhos de heróis passavam, e
tentaram lançar no mercado novos super-heróis. Delegaram então à Stan Lee
e Jack Kirby (o criador original do Capitão América) a tarefa de criar novas
personagens para a editora. Surgiram então o Quarteto Fantástico, um grupo
de super-heróis que fogem à boa parte dos clichês do gênero na época
(JARCEM, 2007).Construídos como uma família (Reed Richards é noivo de
Susan Storm, Johnny Storm é irmão de Susan e Ben Grimm é um grande
amigo do casal), os personagens recebem os poderes de forma acidental e
possuem defeitos, sejam eles físicos (Grimm é extremamente deformado,
o que lhe rendeu a alcunha de O Coisa) sejam de caráter (Johnny Storm é
juvenil, imaturo, temperamental e impulsivo), o que lhes humanizou frente
ao público, que rapidamente se identicou com eles, garantindo o espaço da
agora Marvel Comics no mercado. Após o sucesso inicial, vários outros heróis
e grupos foram criados, como os Vingadores, Thor, o Homem de Ferro, os
X-Men, entre diversos outros.
Outra característica marcante das obras da editora, especialmente
a partir desse período, é a sua ligação com o mundo real. Enquanto a editora
DC estabelece como cenário a Terra, as histórias passam-se em cidades e
locações ctícias: Gotham City, Metropolis, Gateway City, as obras da Marvel,
salvo exceções e liberdades artísticas (como, por exemplo, o Reino ctício da
Latvéria, terra do vilão Doutor Destino, e Atlântida, por exemplo), se passam
principalmente em cidades reais, como New York e Washington DC. Alguns
casos chegam a ser até mais especícos, como a Mansão X, dos X-Men,
localizada na Graymalkin Lane nº 1407, em Salem Center (Nordeste do
Condado de Westchester/NY) (SANDERSON, 2007).
Porém, apesar de ser uma obra de cção, o contexto social dessas
obras inuenciou sua concepção e desenvolvimento. Dessa forma, toda obra de
quadrinhos está intimamente interligada com o contexto histórico que a produziu.
Em seu trabalho A metáfora em X-Men, Alan Ramos Gonçalvez trabalha
com a ideia da metáfora sendo utilizada, consciente ou inconscientemente,
na produção dos quadrinhos, de forma que as obras acabem por conquistar
alguma identicação com a realidade do leitor.
Nas obras abordadas, ressaltarei os impactos causados pelo contexto
em que os Estados Unidos passavam no momento de seu lançamento, bem
como os reexos percebidos a respeito desse contexto, desenvolvendo, a partir