Faces da História
, Assis/SP, v.6, nº2, p.254-273, jul./dez., 2019
Não: os deuses querem, além de abóboras [o vegetal preferido pelos “negros” de
Carlyle], que se cultivem especiarias e outros produtos valiosos em suas Índias
Ocidentais; isso eles declararam ao criar as Índias Ocidentais — infinitamente
mais eles querem: querem que homens trabalhadores ocupem suas Índias
Ocidentais, e não um gado indolente de duas pernas, por mais “feliz” que seja
com suas abundantes abóboras! Essas duas coisas, podemos ter certeza, foram
decididas pelos deuses imortais, e aprovadas em sua Lei Parlamentar eterna: e
ambas, mesmo que todos os Parlamentos e entidades terrenas se oponham até a
morte, serão cumpridas. Quashee, se não ajudar a cultivar as especiarias,
voltará a se tornar um escravo (estado este que será um pouco menos vil do que
o atual) e com um benéfico açoite, visto que outros métodos não servem, será
forçado a trabalhar. (CARLYLE, 1849, p. 670-671, tradução nossa).
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O escritor, professor e crítico social John Ruskin, também discute questões como
o futuro da Inglaterra, o papel do inglês e das colônias em uma de suas palestras em
Oxford. Seu pensamento reflete muito do que essa pesquisa tentar demonstrar. Ruskin
diz:
Há um destino agora possível para nós. [...] Ainda não somos degenerados de
raça; uma raça composta pelo melhor sangue setentrional. [...] Professamos uma
religião de pura misericórdia, que agora devemos trair, ou aprender a defender,
realizando-a plenamente. E temos uma rica herança de honra, a nós transmitida
ao longo de mil anos de história nobre, que deveríamos ansiar diariamente em
aumenta-la com uma esplendida avareza, de tal modo que os ingleses, se pecado
fosse cobiçar a honra, seriam as almas mais pecadoras do mundo. Nos últimos
anos, as leis das ciências naturais se abriram a nós [...] e foram-nos dados meios
de circulação e comunicação que convertem o mundo habitável num único
reino. Um único reino - mas quem há de ser o rei? Não devem existir reis [...] ou
vocês, jovens da Inglaterra, de novo farão de seu país um trono soberano de
reis; uma ilhada coroada, uma fonte de luz, um centro de paz para todo o
mundo; senhora do Saber e das Artes [...] fiel serva de princípios consagrados
pelo tempo. [...] Conosco agora é reinar ou morrer. [...] E eis o que deve fazer,
ou perecer: deve fundar colônias o mais rápido e o mais distante possível,
formadas por seus homens mais enérgicos e dignos – tomando cada trecho de
fecundas terras despovoadas, ela pode ocupá-las, e lá ensinar esses seus
colonos que a principal virtude deles é a fidelidade a seu país, e que o primeiro
objetivo deles deve ser expandir o poderio inglês por terra e por mar. [...] Mas
para que possam agir assim, ela deve manter sua majestade imaculada; ela deve
lhes permitir pensamentos sobre a terra natal de que possam se orgulhar. A
Inglaterra que há de ser a senhora de metade do mundo [...] deve se tornar de
novo a Inglaterra de outrora, e com toda a beleza – mais: tão feliz, tão protegida
e tão pura que em seus céus [...] ela possa representar com justeza cada estrela
que aparece no céu, [...] ela deve guiar as artes humanas, e concentrar o
conhecimento divino, de nações distantes, transformadas da selvageria em
humanidade, e redimidas do desespero para a paz. (RUSKIN, 1905, p. 41,
tradução nossa).
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[No original] “No: the gods wish besides pumpkins [the particular plant favored by Carlyle’s “niggers”],
that spices and valuable products be grown in their West Indies; this much they have declared in so making
the West Indies:—infinitely more they wish, that industrious men occupy their West Indies, not indolent
two-legged cattle however “happy” over their abundant pumpkins! Both these things, we may be assured,
the immortal gods have decided upon, passed their eternal Act of Parliament for: and both of them, though
all terrestrial Parliaments and entities oppose it to the death, shall be done. Quashee, if he will not help in
bringing-out the spices will get himself made a slave again (which state will be a little less ugly than his
present one), and with beneficent whip, since other methods avail not, will be compelled to work”.
(CARLYLE, 1849, 670-671).
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[No original] “There is a destiny now possible for us. [...] We are not yet degenerate of race; a race made
up of the best northern blood. [...] We profess a religion of pure mercy, which we must now betray, or
learn to defend by fully realizing it. And we have a rich heritage of honor, handed down to us through a